Nascido como Stanley Martin Lieber em 28 de dezembro de 1922, ele cresceu pobre em Washington Heights, onde seu pai, um imigrante romeno, era alfaiate. Fez a escola secundária no Liceu
DeWitt Clinton High School e como gostava muito de livros de aventura e filmes de Errol Flynn, Stan Lee, juntou-se ao WPA Federal Theatre Project, onde apareceu em alguns shows e escreveu necrologias.

Em 1939, arranjou emprego a ganhar 8 dólares por semana como moço de recados na empresa que antecedeu a Marvel, a Timely Comics. Dois anos depois, para a publicação nº3 do Capitão América de Steve Kirby e Joe Simon, ele escreveu uma história de duas páginas intitulada "A Vingança do Traidor" (The Traitor's Revenge), onde ele usou o pseudónimo "Stan Lee".
Ele foi nomeado editor-interno aos 19 anos de idade por Martin Goodman quando o editor anterior se demitira. Em 1942, alistou-se no Exército e serviu no Signal Corps, onde escreveu manuais e filmes de treino com um grupo que incluía Frank Capra, vencedor de Óscar, vencedor do Pulitzer, William Saroyan e Theodor Geisel (também conhecido como Dr. Seuss). Após a guerra, ele regressou á editora onde ficou por várias décadas.
Depois da DC Comics criar a Liga da Justiça, Lee e Kirby em Novembro de 1961 criaram a sua própria equipa de super-heróis: o Quarteto Fantástico. Depois criaram o Hulk, o Homem-Aranha, Doutor Estranho (Doctor Strange), Demolidor e X-Men, para a aquela que foi baptizada de Marvel Comics. Os Vingadores tiveram o seu próprio lançamento em Setembro de 1963.
Na mentalidade cultural da altura, não foi surpresa alguma o facto de os snobs da alta cultura literária de Manhattan, discriminarem o modo como Stan Lee ganhava o seu sustento. As pessoas “evitavam-me como se eu tivesse a peste. … Agora, é muito diferente...” (Stan Lee, no The Washington Post)

Em 1972, Lee foi nomeado Director e descartou-se das tradicionais regras da Marvel para passar o tempo a promover a empresa. Mudou-se para Los Angeles em 1980 para montar um estúdio de animação e criar relações de negócios em Hollywood.
Muito antes das personagens da Marvel chegarem ao cinema, elas apareceram na televisão. Uma animação do Homem-Aranha, passou na ABC de 1967 a 1970. Bill Bixby interpretou o Dr. David Banner que, quando enervado se transforma num gigante verde, que é interpretado pelo fisioculturista Lou Ferrigno, na peça "O Incrível Hulk" da CBS, de 1977 a 1982.
Pamela Anderson deu a voz a Stripperella, uma Animação pseudo-erótica da Spike TV para a qual Lee escreveu de 2003 a 2004.
Os últimos anos de Stan Lee não foram fáceis. Por exemplo, depois da sua esposa, Joan, ter falecido em julho de 2017, ele processou os executivos da POW! Entertainment - uma empresa que ele fundou em 2001 para criar filmes, TV e videojogo - por 1 bilhão de dólares, por alegada fraude, mas poucas semanas depois, de repente, desistiu do processo.
Ele também pôs em tribunal o seu ex-gerente de negócios e pediu uma Ordem de Restrição contra o homem que geria os seus negócios. Estima-se que o património de Stan Lee valha até 70 milhões de dólares. E em Junho de 2018, veio a público através do Departamento de Polícia de Los Angeles, uma investigação por causa relatos de abuso contra Stan Lee.
Por conta própria e através da cooperação outros cartonistas e escritores como Jack Kirby, Steve Ditko e outros, Stan Lee catapultou a Marvel, uma pequena empresa de desenhos aos quadradinhos, tornando-a editora nº1 de Banda Desenhada do mundo e mais tarde, uma gigante multimédia através das séries de Animação, videojogos, e dos filmes. Lee trabalhou com Kirby no Quarteto Fantástico, Hulk, Homem de Ferro, Thor, O Surfista Prateado e X-Men. Com Ditko, ele criou o Homem-Aranha e o médico-cirurgião Doctor Strange. E com o artista Bill Everett criou o super-herói cego: Demolidor (Daredevil).
Segundo o próprio Stan Lee, em 2014, no Chicago Tribune: "Eu costumava pensar que o que eu fazia não era muito importante. Há pessoas a construir pontes, a fazer investigação médica para curar doenças, e eu aqui a fazer histórias sobre pessoas fictícias, que fazem coisas doidas, extraordinárias, vestidas de carnaval. Mas suponho que eu me tenha apercebido que a diversão não é facilmente descartada da vida das pessoas.”
Stan Lee era o rosto Marvel e mesmo depois de chegar aos 90 anos, a sua fama e influência eram enormes. Nascido em Manhattan, escreveu, dirigiu a arte da Marvel, na maioria das séries, e tiras de banda desenhada que apareciam nos jornais. Ele também escrevia uma coluna mensal de quadrinhos desenhados, o “Stan's Soapbox”, assinando coma sua típica fala nos filmes: “Excelsior!”😄
Lee era tão extraordinário quanto as personagens que criou! Posso até dizer que era um super-herói por si mesmo para todos os fãs da Marvel, á volta do mundo. Stan Lee tinha o poder de inspirar, divertir e ligar pessoas entre si. De acordo com os seus entes queridos, a grandeza da sua imaginação só era ultrapassada pelo tamanho do seu coração.

A maneira como fazia as coisas na Marvel era: desenvolver uma história com um artista e depois escrever um resumo da potencial história. Depois do cartonista desenhar os painéis da história (storyboard), Lee escrevia os balões de discurso e entre personagens, e as legendas. Este processo ficou conhecido como "O Método Marvel".
Tal como seria de esperar, por vezes, tal como acontece no Youtube, a colaboração com outros artistas levava a conflitos por causa dos Direitos de Autor. Por exemplo, Lee e Ditko envolveram-se regularmente em sérias discussões e acabaram ambos, por ficar com a autoria de escrita nos filmes do Homem-Aranha e de animações de TV.
"Eu não quero que ninguém pense que eu tratei Kirby ou o Ditko injustamente (...) Acho que tivemos um relacionamento maravilhoso. O talento deles era incrível. Mas as coisas que eles queriam não estavam ao meu alcance para poder dar-lhes." (Stan Lee, na Playboy de Abril de 2014)
Tal como qualquer funcionário, Stan Lee não tinha direitos de autor sobre as personagens que ele ajudou a criar, para a Marvel.
Na década de 70, Lee ajudou a ultrapassar os limites da censura na Banda Desenhada, quando se tornara um mundo demasiado fantasioso para as crianças, aí ele decidiu incluir assuntos actuais da sociedade vigente e sua cultura, dando ainda mais credibilidade ás suas histórias.
Em 1954, a publicação do livro do psicólogo Frederic Wertham, "Sedução do Inocente", apelou ao governo para regular a violência, o sexo, o uso de drogas, o desrespeito pela autoridade, etc - nos livros aos quadrinhos, como forma de reduzir a delinquência juvenil.
Os editores de banda desenhada, cheios de medo, decidiram formar a Autoridade de Código de Conduta para a Banda Desenhada (Comics Code Authority), uma instituição de auto-censura que acabou por deitar por água o interesse dos adultos nos livros aos quadradinhos e fazendo destes algo demasiado infantil, que apenas as crianças iriam gostar.
Depois Lee escreveu cenários com personagens banais mas em 1971, no "Fantástico Homem-Aranha", ele inseriu uma história anti-droga , no qual o melhor amigo de Peter Parker, o Harry Osborn, tinha tomado comprimidos de drogas. Esta publicação não levava o "selo de aprovação" da A.C.C.B.A. (CCA) na capa mas tornou-se extremamente popular e mais tarde, a referida instituição tornou flexíveis algumas das suas directrizes de censura.
Em 2002, Stan Lee publicou uma autobiografia: "Excelsior! A incrível vida de Stan Lee".
Stan Lee deixa como família: a sua filha J.C. Lee; o filho mais novo Larry Lieber, também escritor e artista na Marvel; Jan, a filha, que morreu quando era criança; a sua esposa, Joan, que foi modelo de chapéus, com quem se casara em 1947.
Numa declaração pública, a família de Stan Lee, manifesta o apoio de toda a gente:
"J.C. Lee e todos os amigos e colegas de Stan Lee querem agradecer a todos os seus fãs e simpatizantes pelas suas palavras e condolências. Stan era um ícone na sua área. Os seus fãs adoravam-o e ao seu desejo de interagir com eles. Ele adorava os seus fãs e tratava-os com o mesmo respeito e amor que eles lhe davam. Ele trabalhou incansavelmente toda a sua vida criando grandes personagens para o mundo desfrutar. Ele queria inspirar a nossa imaginação e para todos nós a usarmos para fazer do mundo um lugar melhor. A sua herança viverá para sempre."
Tal como Alfred Hitchcock antes dele, humildemente Stan Lee fez aparições nos filmes da Marvel, animações e outros, jogando xadrez, entregando o correio, fazendo de milionário da Playboy no Homem de Ferro, apresentando Strippers, regando a relva, abraçando a sua esposa durante uma invasão extraterrestre, confortando a Mary Jane e o Peter Parker, desafiando Thor para beber, sendo um oficial do Exército Americano, como extra-terrestre, guarda-nocturno de museu, como Don Juan, como passageiro apático ao perigo, como motorista, como vizinho que gosta de dar opiniões, como DJ, etc.😄
No filme, O Homem-Aranha 3 (2007), ele conversa com Peter Parker, ao parar na rua da Times Square para ler as notícias: "O lançador de teias irá receber a chave da cidade." e Stan Lee diz ao Peter Parker: "Sabes? Acho que uma pessoa pode fazer toda a diferença..."
Tal como Bruce Lee fez diferença e revolucionou para sempre o mundo das Artes Marciais, também Stan Lee provocou uma revolução nos livros aos quadradinhos e inspirou gerações.
Text and Adaptation: Miguel Fight
Sources: Stan Lee's fans, Marvel, Chicago Tribune, Wikipedia, Playboy Magazine, Gene Simmons, The Washington Post, Spider-Man PS4 videogame,
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