Stan Lee, o lendário cartonista, escritor, e editor da Marvel Comics, responsável pela criação e co-criação de personagens icônicas como o Homem-Aranha, X-Men, Thor, O Incrível Hulk, Homem de Ferro, Pantera Negra, Homem-Formiga e o Quarteto Fantástico entre outras, cujas fantásticas criações fizeram dele um super-herói da vida real para os amantes da banda desenhada no planeta Terra, morreu no Centro Médico Cedars-Sinai, em Los Angeles, na 2ªfeira, dia 12 de Novembro de 2018. Tinha 95 anos...
Nascido como Stanley Martin Lieber em 28 de dezembro de 1922, ele cresceu pobre em Washington Heights, onde seu pai, um imigrante romeno, era alfaiate. Fez a escola secundária no Liceu
DeWitt Clinton High School e como gostava muito de livros de aventura e filmes de Errol Flynn, Stan Lee, juntou-se ao WPA Federal Theatre Project, onde apareceu em alguns shows e escreveu necrologias.
Em 1939, arranjou emprego a ganhar 8 dólares por semana como moço de recados na empresa que antecedeu a Marvel, a Timely Comics. Dois anos depois, para a publicação nº3 do Capitão América de Steve Kirby e Joe Simon, ele escreveu uma história de duas páginas intitulada "A Vingança do Traidor" (The Traitor's Revenge), onde ele usou o pseudónimo "Stan Lee".
Ele foi nomeado editor-interno aos 19 anos de idade por Martin Goodman quando o editor anterior se demitira. Em 1942, alistou-se no Exército e serviu no Signal Corps, onde escreveu manuais e filmes de treino com um grupo que incluía Frank Capra, vencedor de Óscar, vencedor do Pulitzer, William Saroyan e Theodor Geisel (também conhecido como Dr. Seuss). Após a guerra, ele regressou á editora onde ficou por várias décadas.
Depois da DC Comics criar a Liga da Justiça, Lee e Kirby em Novembro de 1961 criaram a sua própria equipa de super-heróis: o Quarteto Fantástico. Depois criaram o Hulk, o Homem-Aranha, Doutor Estranho (Doctor Strange), Demolidor e X-Men, para a aquela que foi baptizada de Marvel Comics. Os Vingadores tiveram o seu próprio lançamento em Setembro de 1963.
Na mentalidade cultural da altura, não foi surpresa alguma o facto de os snobs da alta cultura literária de Manhattan, discriminarem o modo como Stan Lee ganhava o seu sustento. As pessoas “evitavam-me como se eu tivesse a peste. … Agora, é muito diferente...” (Stan Lee, no The Washington Post)
Mas nem toda a gente fazia o mesmo, Lee lembra-se de uma vez, Federico Fellini vir visitá-lo, no seu escritório em Nova York, e queria apenas falar do Homem-Aranha.
Em 1972, Lee foi nomeado Director e descartou-se das tradicionais regras da Marvel para passar o tempo a promover a empresa. Mudou-se para Los Angeles em 1980 para montar um estúdio de animação e criar relações de negócios em Hollywood.
Muito antes das personagens da Marvel chegarem ao cinema, elas apareceram na televisão. Uma animação do Homem-Aranha, passou na ABC de 1967 a 1970. Bill Bixby interpretou o Dr. David Banner que, quando enervado se transforma num gigante verde, que é interpretado pelo fisioculturista Lou Ferrigno, na peça "O Incrível Hulk" da CBS, de 1977 a 1982.
Pamela Anderson deu a voz a Stripperella, uma Animação pseudo-erótica da Spike TV para a qual Lee escreveu de 2003 a 2004.
Os últimos anos de Stan Lee não foram fáceis. Por exemplo, depois da sua esposa, Joan, ter falecido em julho de 2017, ele processou os executivos da POW! Entertainment - uma empresa que ele fundou em 2001 para criar filmes, TV e videojogo - por 1 bilhão de dólares, por alegada fraude, mas poucas semanas depois, de repente, desistiu do processo.
Ele também pôs em tribunal o seu ex-gerente de negócios e pediu uma Ordem de Restrição contra o homem que geria os seus negócios. Estima-se que o património de Stan Lee valha até 70 milhões de dólares. E em Junho de 2018, veio a público através do Departamento de Polícia de Los Angeles, uma investigação por causa relatos de abuso contra Stan Lee.
Por conta própria e através da cooperação outros cartonistas e escritores como Jack Kirby, Steve Ditko e outros, Stan Lee catapultou a Marvel, uma pequena empresa de desenhos aos quadradinhos, tornando-a editora nº1 de Banda Desenhada do mundo e mais tarde, uma gigante multimédia através das séries de Animação, videojogos, e dos filmes. Lee trabalhou com Kirby no Quarteto Fantástico, Hulk, Homem de Ferro, Thor, O Surfista Prateado e X-Men. Com Ditko, ele criou o Homem-Aranha e o médico-cirurgião Doctor Strange. E com o artista Bill Everett criou o super-herói cego: Demolidor (Daredevil).
Segundo o próprio Stan Lee, em 2014, no Chicago Tribune: "Eu costumava pensar que o que eu fazia não era muito importante. Há pessoas a construir pontes, a fazer investigação médica para curar doenças, e eu aqui a fazer histórias sobre pessoas fictícias, que fazem coisas doidas, extraordinárias, vestidas de carnaval. Mas suponho que eu me tenha apercebido que a diversão não é facilmente descartada da vida das pessoas.”
Stan Lee era o rosto Marvel e mesmo depois de chegar aos 90 anos, a sua fama e influência eram enormes. Nascido em Manhattan, escreveu, dirigiu a arte da Marvel, na maioria das séries, e tiras de banda desenhada que apareciam nos jornais. Ele também escrevia uma coluna mensal de quadrinhos desenhados, o “Stan's Soapbox”, assinando coma sua típica fala nos filmes: “Excelsior!”😄
Lee era tão extraordinário quanto as personagens que criou! Posso até dizer que era um super-herói por si mesmo para todos os fãs da Marvel, á volta do mundo. Stan Lee tinha o poder de inspirar, divertir e ligar pessoas entre si. De acordo com os seus entes queridos, a grandeza da sua imaginação só era ultrapassada pelo tamanho do seu coração.
Nos inícios da década de 60, o destemido Stan Lee dotou os seus super-heróis da Marvel com personalidade, não apenas com super-poderes. Até então, os típicos heróis da DC Comics eram personagens sem imperfeições ou crises pessoais, ao contrário dos seus heróis que tinham fraquezas humanas e problemas pessoais, como por exemplo: o Peter Parker (Homem-Aranha), que se preocupou com a caspa no cabelo e ficou cheio de medo de namorar. As suas personagens maléficas eram também de uma enorme complexidade e confusão psicológica sem igual.As suas histórias ensinavam que até mesmo os super-heróis como o Homem-Aranha e o Incrível Hulk têm problemas de auto-estima e crises de relacionamento com as mulheres, tal e qual como nós, simples humanos. E que não viviam 24 horas por dia vestidos de fato-fantasia. Através da sinceridade de personagens como o Homem-Aranha, Thor, Homem-de-Ferro e outras, aprendemos que a natureza humana também tem um lado negro.
A maneira como fazia as coisas na Marvel era: desenvolver uma história com um artista e depois escrever um resumo da potencial história. Depois do cartonista desenhar os painéis da história (storyboard), Lee escrevia os balões de discurso e entre personagens, e as legendas. Este processo ficou conhecido como "O Método Marvel".
Tal como seria de esperar, por vezes, tal como acontece no Youtube, a colaboração com outros artistas levava a conflitos por causa dos Direitos de Autor. Por exemplo, Lee e Ditko envolveram-se regularmente em sérias discussões e acabaram ambos, por ficar com a autoria de escrita nos filmes do Homem-Aranha e de animações de TV.
"Eu não quero que ninguém pense que eu tratei Kirby ou o Ditko injustamente (...) Acho que tivemos um relacionamento maravilhoso. O talento deles era incrível. Mas as coisas que eles queriam não estavam ao meu alcance para poder dar-lhes."
(Stan Lee, na Playboy de Abril de 2014)
Tal como qualquer funcionário, Stan Lee não tinha direitos de autor sobre as personagens que ele ajudou a criar, para a Marvel.
Na década de 70, Lee ajudou a ultrapassar os limites da censura na Banda Desenhada, quando se tornara um mundo demasiado fantasioso para as crianças, aí ele decidiu incluir assuntos actuais da sociedade vigente e sua cultura, dando ainda mais credibilidade ás suas histórias.
Em 1954, a publicação do livro do psicólogo Frederic Wertham, "Sedução do Inocente", apelou ao governo para regular a violência, o sexo, o uso de drogas, o desrespeito pela autoridade, etc - nos livros aos quadrinhos, como forma de reduzir a delinquência juvenil.
Os editores de banda desenhada, cheios de medo, decidiram formar a Autoridade de Código de Conduta para a Banda Desenhada (Comics Code Authority), uma instituição de auto-censura que acabou por deitar por água o interesse dos adultos nos livros aos quadradinhos e fazendo destes algo demasiado infantil, que apenas as crianças iriam gostar.
Depois Lee escreveu cenários com personagens banais mas em 1971, no "Fantástico Homem-Aranha", ele inseriu uma história anti-droga , no qual o melhor amigo de Peter Parker, o Harry Osborn, tinha tomado comprimidos de drogas. Esta publicação não levava o "selo de aprovação" da A.C.C.B.A. (CCA) na capa mas tornou-se extremamente popular e mais tarde, a referida instituição tornou flexíveis algumas das suas directrizes de censura.
Em 2002, Stan Lee publicou uma autobiografia: "Excelsior! A incrível vida de Stan Lee".
Stan Lee deixa como família: a sua filha J.C. Lee; o filho mais novo Larry Lieber, também escritor e artista na Marvel; Jan, a filha, que morreu quando era criança; a sua esposa, Joan, que foi modelo de chapéus, com quem se casara em 1947.
Numa declaração pública, a família de Stan Lee, manifesta o apoio de toda a gente:
"J.C. Lee e todos os amigos e colegas de Stan Lee querem agradecer a todos os seus fãs e simpatizantes pelas suas palavras e condolências. Stan era um ícone na sua área. Os seus fãs adoravam-o e ao seu desejo de interagir com eles. Ele adorava os seus fãs e tratava-os com o mesmo respeito e amor que eles lhe davam. Ele trabalhou incansavelmente toda a sua vida criando grandes personagens para o mundo desfrutar. Ele queria inspirar a nossa imaginação e para todos nós a usarmos para fazer do mundo um lugar melhor. A sua herança viverá para sempre."
Tal como Alfred Hitchcock antes dele, humildemente Stan Lee fez aparições nos filmes da Marvel, animações e outros, jogando xadrez, entregando o correio, fazendo de milionário da Playboy no Homem de Ferro, apresentando Strippers, regando
a relva, abraçando a sua esposa durante uma invasão extraterrestre,
confortando a Mary Jane e o Peter Parker, desafiando Thor para beber,
sendo um oficial do Exército Americano, como extra-terrestre,
guarda-nocturno de museu, como Don Juan, como passageiro apático ao
perigo, como motorista, como vizinho que gosta de dar opiniões, como DJ,
etc.😄
No filme, O Homem-Aranha 3 (2007), ele conversa com Peter Parker, ao parar na rua da Times Square para ler as notícias: "O lançador de teias irá receber a chave da cidade." e Stan Lee diz ao Peter Parker: "Sabes? Acho que uma pessoa pode fazer toda a diferença..."
Tal como Bruce Lee fez diferença e revolucionou para sempre o mundo das Artes Marciais, também Stan Lee provocou uma revolução nos livros aos quadradinhos e inspirou gerações.
Text and Adaptation: Miguel Fight
Sources: Stan Lee's fans, Marvel, Chicago Tribune, Wikipedia, Playboy Magazine, Gene Simmons, The Washington Post, Spider-Man PS4 videogame,
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